Pr. João Soares da Fonseca
Você sabe por que sepultamos os mortos na posição horizontal? A prática deriva de uma forte influência religiosa, segundo a qual, para “descansar em paz”, o corpo precisaria estar nessa posição, já que é assim que descansamos.
Em Teresina (PI), porém, o senhor Humberto Reis, deputado estadual por 13 mandatos, pediu à família que seu caixão fosse enterrado de pé, na posição vertical. E dava uma razão para isso: “como não se curvou para ninguém, inclusive os adversários, ele, então, decidiu que não se dobraria diante da morte” (O Globo, 27-10-2013).
O deputado esqueceu que nascemos para morrer; que “aos homens está ordenado morrerem uma só vez…” (Hebreus 9.27). Vítor Hugo dizia que “o homem é um embrulho postal que a parteira despachou para o coveiro”. O tempo inteiro vivemos cercados pela macabra e certeira presença da morte.
O rei Davi, além da presença, reconhecia a proximidade da morte: “Há um passo entre mim e a morte” (1Samuel 20.3). No bairro de Santa Inês, em Vila Velha (ES), há um cemitério. Por muitos anos, as pessoas se assustavam ao ler uma frase escrita no portão principal: “Nós, que aqui estamos, por vós esperamos”. E já que falei em cemitério, que tal lembrar a frase famosa, estampada no portão do Cemitério São João Batista aqui no Rio? O visitante é recebido em latim: “Revertere ad Locum Tuum” (“Volta ao teu lugar”), clara alusão à palavra que Deus disse a Adão: “…tu és pó e ao pó tornarás” (Gênesis 3.19).
Alfred Hitchcock foi ao funeral de um velho ator inglês. Após o sepultamento, ele e uns amigos ficaram no cemitério um pouco mais, olhando o túmulo e suspirando, já saudosos do falecido.
Quando todos se preparavam para ir embora, Hitchcock se virou para um deles e perguntou em seu humor sombrio:
– Charlie, me desculpe perguntar, mas quantos anos você tem?
– Oitenta e nove – respondeu Charlie.
E Hitchcock completou: – E você acha que vai valer a pena ir embora daqui e voltar para casa?