Pr. João Soares da Fonseca

Áudio Pastoral

O imperador Trajano (53-117) é, até hoje, considerado o maior dos imperadores romanos, embora fosse espanhol de Sevilha. Com ele, o Império alcançou o máximo em extensão territorial. Os judeus contam um diálogo que teria se travado entre ele e um líder do judaísmo, o rabino Josué.
O imperador perguntou ao rabino: – Onde está o teu Deus?
O rabino respondeu: – O meu Deus está em toda a parte.
O imperador então fez um desafio: – Se está em toda parte, mostra-o a mim.
O rabino contestou: – Deus não pode ser visto. Nenhum olho humano resistiria ao esplendor de sua glória. Mas posso apresentar a Vossa Majestade um de seus embaixadores.
Trajano aceitou o convite, e ambos se dirigiram ao pátio do palácio. Como fosse meio-dia, o sol brilhava exuberantemente.
– Levanta a cabeça e encara o sol. Trata-se de um dos embaixadores do meu Deus – disse o rabino.
– Não posso fitá-lo. Sua luz me deixará cego!
– Majestade, se não podes encarar uma das criações de Deus, como pretendes ver o próprio Criador?
O salmo 8 é um belíssimo cântico de louvor à majestade de Deus. A criação aponta para o Criador. Mas, em estado de arrebatamento, o poeta contrasta a grandeza de Deus com a pequenez humana e pergunta: “Que é o homem, para que te lembres dele?” (Salmo 8.4). Para Karl Marx, o homem é apenas “homo faber”, alguém capaz de fabricar bens. Para a filosofia existencialista, é um ser que faz escolhas. Para a antropologia, é o “homo religiosus”, um ente incuravelmente religioso.
Para o matemático, cientista e teólogo francês Blaise Pascal (1623-1662), a condição humana mistura grandeza e miséria. A expressão é dele: “O homem é o orgulho e o refugo do universo”. Por isso, somos o que ele chamou de “o supremo paradoxo da criação”. Mesmo sendo minúsculos, recebemos de Deus a tarefa de governar o universo (Salmo 8.6-8). Ao poeta só resta então cantar: “Ó Senhor, Senhor nosso; quão magnífico é o teu nome em toda a terra”.

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