Pr. João Soares da Fonseca
Dona Pureza Lopes Loyola é evangélica. Mora no Maranhão. Como tantos outros irmãos, aprendeu a ler aos 40 anos para poder ler a Bíblia. Em 1997, saiu da roça pela primeira vez. E foi a Londres receber o “Prêmio Anti-Escravidão 1997”, da Anti-Slavery International, a mais antiga ONG do mundo, que desde 1839 luta por libertar escravos. Em 2020, os cinemas brasileiros vão exibir o filme de sua vida, ou mais precisamente, de sua luta, filme que se chamará “Pureza”.
A luta da irmã Pureza começou quando Abel, o filho caçula, de 18 anos, saiu de casa para procurar emprego em garimpos do Pará. Saiu, mas nunca mais voltou, nem mandou notícia. O instinto de mãe dizia a ela que Abel estava vivo, mas aquele silêncio dele podia ser indício de que fora capturado para trabalhar como escravo.
Seguindo o seu instinto, Pureza vendeu tudo em Bacabal (MA) e saiu pelo mundo em 1993, viajando a pé, batendo em portas e porteiras de fazendas. “Mostrava a foto do filho… e ia perguntando se alguém tinha visto aquele jovem com três dedos do pé esquerdo atrofiados”, escreveu Dorrit Harazim (O Globo, 22-10-2017). Até que em maio de 1996, depois de três anos de busca, a mãe achou o filho, que estava no Sul do Pará. Mas não achou apenas o filho: na caminhada, deparou casos e casos de trabalho escravo, que denunciou às autoridades, inclusive aos então presidentes Collor, Itamar e FHC.
Uma das histórias mais apavorantes, que D. Pureza ouviu e registrou num gravador, foi a de um trabalhador, que estava febril com tanta dor de dente que nem conseguia se levantar da rede. “O capataz amarrou o adoentado a uma árvore e, com alicate, arrancou todos os seus dentes”, escreveu o jornalista Élcio Braga (O Globo, 22-07-2018).
Para nossa vergonha, em pleno século 21, a escravidão continua sendo praticada no interior do Brasil. Um tópico de tanta relevância não pode ser esquecido na próxima eleição. Deus salve o Brasil!