Pr. João Soares da Fonseca
Um certo homem estava viajando num trem com o seu filhinho ainda de colo. A viagem era longa e, portanto, cansativa. Fez-se noite, e o trem continuava sacudindo-se no seu enfadonho palaque-palaque. Parecia que a estação final não chegaria jamais. Os passageiros estavam exaustos.
Para aumentar ainda mais o desconforto destes, o menininho começou a chorar. Era um chorinho monótono e irritante que ameaçava atravessar toda a noite.
A certa altura, já bem tarde, um outro passageiro perdeu a paciência, levantou-se e foi censurar, de modo agressivo, o pai do menininho:
― Escute aqui, seu irresponsável. Você não percebe que está atrapalhando a todos neste trem maldito? Por que você não obriga esse menino a se calar? Por que não o entrega à mãe dele, já que você não tem mesmo capacidade pra isso?
Envergonhado, o pai responde:
― Minha esposa, a mãe deste menino, está vindo em seu caixão no último vagão deste trem. Estou levando meu filho para casa e minha mulher para o cemitério.
O passageiro, antes irritado, agora não sabe direito o que dizer e o que fazer. Mas é humilde o suficiente para pedir perdão e expressar o seu pesar:
― Oh, amigo, queira me perdoar! Eu não sabia disso. Deixe este menino comigo por algum tempo. Cuidarei dele enquanto você tenta dormir; você está muito cansado.
Esta triste história nos alerta do perigo de julgarmos as pessoas sem o devido conhecimento das causas dos problemas que as afligem. É enorme o risco de cometermos injustiça, julgando apenas pela aparência. Há fenômenos cujas causas escapam à nossa pobre percepção. O melhor então é abstemo-nos de formar uma opinião, de pronunciar uma sentença, até que tenhamos em mãos dados que nos permitam uma análise objetiva da situação. Quem disse que é fácil? Mesmo porque o humano em nós tende a cair na tentação de emitir juízo e expressar opinião. Como Jó confessou: “Falei do que não entendia” (Jó 42.3).