Pr. João Soares da Fonseca
Fizeram da Cruz uma Arma
No dia 18 de novembro do ano de 1095, a Igreja Cristã, liderada pelo Papa Urbano II, tomou uma decisão equivocada e de consequências lastimáveis para milhares de vidas e para a própria pregação do evangelho. Reunidos em concílio na cidade francesa de Clermont-Ferrand, duzentos bispos se debruçaram sobre dois tópicos: reformar a igreja e planejar a Primeira Cruzada.
Que eram as Cruzadas? Nada mais do que europeus armados, enviados à Palestina, em nome de Deus, para tentar reconquistar Jerusalém, então dominada pelos turcos, que eram muçulmanos. Os constantes ataques sofridos por peregrinos cristãos levou a Igreja a fazer a opção pela força.
O papa convocou os cristãos a irem literalmente à luta. Multidões de camponeses deixaram suas terras e foram à guerra diante da promessa de perdão dos pecados e posse de bens. Indo a pé, caminhando cerca de 3.000 km, os participantes da Primeira Cruzada, liderados por Pedro, o Eremita, foram humilhados e mortos pelas forças muçulmanas.
Inflamados por Godofredo de Bulhão, os soldados da Segunda Cruzada, basicamente franceses,
voltaram a atacar os muçulmanos, dessa vez obtendo a vitória. Como usassem um desenho da cruz no uniforme e nas bandeiras, passaram à história com o nome de “cruzados”.
Por quase duzentos anos, oito expedições militares oficiais foram enviadas contra os árabes (palestinos) e turcos, promovendo uma carnificina regada a rezas e orações. Estima-se que cerca de 1 milhão de pessoas, entre cristãos e muçulmanos, tenham perecido. Tudo em nome da Cruz.
São páginas que envergonham a Igreja até hoje. Em 1982, meus amigos muçulmanos no Iraque me lembravam essa nódoa, como a dizer: “Você está falando de amor, mas veja o que os cristãos fizeram”. Jesus havia dito a Pilatos que o seu reino não era deste mundo (João 18.36). Mas a igreja não deu ouvidos às palavras de Cristo, preferindo ouvir homens fanáticos e ambiciosos.