Pr. João Soares da Fonseca
Ateísmo de Filhos de Crentes
A queda de um helicóptero na cidade de São Paulo no dia 11 de fevereiro privou o Brasil de um dos mais completos jornalistas do País. Ricardo Boechat sabia falar a língua do povo. Escrevendo no jornal, falando diariamente no rádio e apresentando notícia ou entrevistando na televisão, esbanjava competência. Embora sobrinho de dois respeitáveis pastores batistas do campo fluminense (Clério e Emiliano Boechat), primo de outros tantos bons crentes, como a irmã Ivone Boechat, neto de membro fundadora da Primeira Igreja Batista de Aperibé (RJ), Boechat se confessava ateu. A frase chocava por ser enunciada com franqueza. A Bíblia ensina que não basta ser sobrinho de crente, nem filho de pastor. É preciso cada um nascer de novo (João 3.3). Logo, interpretações apressadas tentaram vincular o acidente ao ateísmo. Morreu porque teria discordado do “ungido do Senhor”, conceito sem respaldo no Novo Testamento. Se toda vez que alguém discordasse de um pastor tivesse o avião derrubado pela ira de Deus, a terra estaria coalhada de carcaças de aeronaves. Se o temor a Deus é tópico a ser levado a sério, a liberdade humana também. Outros tentaram explicar por que Boechat desembarcou no pântano do ateísmo. Um querido irmão escreveu: “Creio que o rigor com que éramos obrigados a, como cristãos, encararmos a vida jovem naquela época deve tê-lo afastado daquele Deus tão exigente de então quanto ao traje, locais que podíamos frequentar, trabalho que podíamos fazer etc.”. Ou seja, se entendi corretamente, o rigor das igrejas é que empurrava as pessoas para longe de Deus. Será? Culpabilizar a igreja pelo ateísmo do ateu também não tem base bíblica. O que tem base é lembrar que Deus deu a todos a liberdade de escolha. Cada um faz dela o que quiser, sabendo que depois terá de acertar as contas com Ele. À fé, alguns vêm pelo amor; outros, pela dor. E ainda outros, nem por uma coisa nem por outra.