Pr. João Soares da Fonseca
Cachorros na Igreja?
Recordo-me de certa vez, quando um homem muito simples chegou ao portão de nossa igreja e, antes de entrar, temeroso, me perguntou: “Tem cachorro nessa igreja?” Naturalmente que se referia à área do templo.
Na hora respondi que não, mas depois, fiquei pensando na pergunta, e me ocorreu o texto de Paulo quando disse: “Guardai-vos dos cães” (Filipenses 3.2). A Bíblia Viva, que é uma paráfrase, diz: “Cuidado com esses homens ruins – eu os chamo cães perigosos – os que dizem que vocês devem circuncidar-se para serem salvos”.
A cultura ocidental nutre grande apreço pelos cães, mas não é assim no Oriente. Muito menos nos tempos bíblicos. O comentarista J. B. Lightfoot fala dos “cães que rondam as cidades do Oriente, sem casa e sem dono, alimentando-se do lixo e das imundícies das ruas, brigando entre si e atacando os transeuntes”. Na Bíblia, o cachorro é considerado o ser mais baixo (veja 1Sm 24.14; 2Rs 8.13; Sl 22.16, 20; Lc 16.21; Mt 7.5; Ap 22.15), símbolo de impureza.
Ocorre que tradicionalmente os judeus sempre consideraram cães os gentios (não judeus). Uma frase rabínica sentenciava: “Os povos do mundo são como os cães”. “Os gentios” — repetiam os judeus — “foram criados por Deus para serem o combustível do fogo do inferno”.
Por que então Paulo diz “Guardai-vos dos cães”? Quem são eles? São os judeus ou os gentios?
No contexto de Filipenses, eram os judeus que tentavam desfazer o ministério de Paulo, que ensinavam que para alguém ser salvo, precisava deixar-se circuncidar. Para eles, não era suficiente a obra de Cristo na cruz. Não era suficiente a graça de Deus.
Seria o caso de perguntar se tais cães desapareceram? Será que estamos livres deles hoje? Mesmo uma observação superficial da realidade que nos cerca mostrará que não. Ventos de doutrinas esdrúxulas e estranhas, cada vez mais fortes, sopram contra o edifício da fé bíblica. Que não nos deixemos seduzir por elas!