Pr. João Soares da Fonseca
No século 19, o inglês Allen Gardiner deixou a Marinha Real, onde era capitão, e foi ser missionário na Terra do Fogo, extremo Sul da Argentina, levando consigo seis voluntários. Na embarcação, havia suprimento para uns seis meses.
Ferocíssimos, os índios da região os expulsaram. O grupo saiu para o mar, refugiou-se em Spanish Harbor e fez contatos com a Inglaterra pedindo suprimento. Mas o suprimento nunca chegava. Um por um, os companheiros de Gardiner foram morrendo. Ele morreu por último. Mas em seu diário, no dia 6 de setembro de 1851, Gardiner escreveu: “Grandes e maravilhosas são as benevolências de meu gracioso Deus para comigo. Não sinto fome nem sede, embora esteja há cinco dias sem comida”.
O navio com suprimento só chegou ao lugar, quatro meses depois, encontrando os cadáveres e o diário.
O testemunho de Gardiner me deixa intrigado: como é que alguém está morrendo de fome e ainda assim chama Deus de “gracioso”? E diante da morte pode dizer que as benevolências de Deus são “grandes e maravilhosas”?
A resposta é: depende do tipo de cristianismo que se está vivendo. Criou-se hoje um clone do cristianismo, que é superficial e puramente interessado em coisas. É uma devoção em que o devoto se aproxima de Deus para explorá-lo, para pedir, para mendigar, às vezes para exigir, bênçãos materiais. Isso poderia até paradoxalmente ser chamado materialismo religioso.
Há, porém, uma outra religião: a que faz o crente se aproximar de Deus, com ou sem bênçãos. Para esses, Deus em si já é o bem supremo. Eles se alegram em Deus, juntando suas vozes à de Habacuque: “Ainda que as figueiras não produzam frutas, e as parreiras não deem uvas; ainda que não haja azeitonas para apanhar nem trigo para colher; ainda que não haja mais ovelhas nos campos nem gado nos currais, mesmo assim eu darei graças ao Senhor…” (Habacuque 3.17,18 – NTLH).
É assim que você tem servido ao Senhor?