Pr. João Soares da Fonseca
O Fardo de Cada Um
O cotidiano nos surpreende com uma cornucópia de contrariedades. Alexandre Herculano (1810-1877) fez um seu personagem usar a expressão “amarrado ao próprio cadáver”. Cada um de nós sabe o tipo de fardo que a vida lhe pôs no ombro.
Para alguns, o fardo é a própria luta pela sobrevivência. É uma verdadeira “briga de foice” contra a miséria, tendo que encarar todas as incertezas, instabilidades e insuficiências. É preciso correr ao combate diário para garantir uma passagem decente por este mundo em que sobra injustiça.
Para outros, é o fardo do sofrimento. É a dor de uma doença que aflige o corpo às vezes por anos a fio, sem analgésico que dê jeito.
É, noutros casos, o fardo da amargura; da antipatia voltada contra nós, sem que ao menos saibamos por quê.
É o fardo da dúvida, na encruzilhada de uma decisão, quando ficamos confusos diante de tantas setas apontando vários caminhos, e a mente não sabe exatamente qual seguir.
É o fardo da culpa, como se todos os dedos indicadores da humanidade se voltassem unânimes contra nós, esmagando a consciência, humilhando, abatendo, rebaixando.
É o fardo da ansiedade diante de uma promessa não cumprida, como se o próprio tempo estivesse brincando com a gente. Ou ainda o da angústia que aperta o peito ou o da tristeza que tritura o semblante.
É o peso da opressão do nada, da ausência de significação, como se a vida fosse uma viagem sem sentido, a lugar nenhum.
Todos estes e tantos outros sentimentos foram vividos pelo salmista. Daí sua autoridade para dar um conselho: “Lança o teu fardo sobre o Senhor, e Ele te susterá; nunca permitirá que o justo seja abalado” (Salmo 55.22).
Diante de você descortinam-se duas opções: continuar arrastando os pés debaixo de um fardo intransportável, lamentando-se, entristecendo-se, ou então lançar o fardo sobre o Senhor e viver em plena liberdade e genuína alegria. Pelo menos você é livre para fazer essa escolha.