Pr. João Soares da Fonseca
O Longo Silêncio
John Stott, em seu livro A Cruz de Cristo (1986), resume uma peça teatral intitulada O longo silêncio:
A cena se passa no dia do julgamento final. Bilhões de pessoas se espalham numa planície perto do trono onde Deus as julgará. Pequenos grupos conversam.
“Será que Deus pode nos julgar? O que é que ele sabe sobre sofrimento? Nós tivemos que enfrentar o terror… a tortura… morte”, questiona uma jovem morena, mostrando uma tatuagem nazista no braço.
Num grupo, um jovem negro mostra o colarinho da camisa e pergunta: “E isso aqui? (…) Fui linchado… por crime nenhum, só por ser negro!”.
E assim, centenas de grupos conversam. Todos reclamam de Deus pelo mal que sofreram neste mundo. Deus tinha muita sorte em viver no céu onde tudo era doçura e luz, onde não há choro, medo, fome ou ódio. O que é que Deus sabe do que os homens tiveram que sofrer na terra, já que vive bem protegido no céu?
Cada grupo elege um líder, aquele que mais sofreu: um judeu, um negro, alguém de Hiroshima, alguém deformado pela artrite, uma criança vítima da talidomida… Conversam; estão prontos para argumentarem em sua defesa. Antes de Deus julgar as pessoas, ele deve passar pelo que elas passaram. Decidem que Deus deve ser condenado a viver na terra – como um ser humano:
Que ele nasça judeu! Que se duvide da legitimidade do seu nascimento! Seja seu trabalho tão difícil que até sua família o julgue fora de si! Que ele seja traído por amigos íntimos! Que enfrente falsas acusações, seja julgado por um júri comprado e sentenciado por um juiz covarde! Seja torturado! Que morra totalmente abandonado!
Murmurando, a multidão concordava. Quando o último líder leu a sua parte, houve um longo silêncio. Nenhum movimento. Todos compreendiam que Deus já havia cumprido a sua sentença (p. 336-7).
Jesus morreu desamparado para que você não ficasse desamparado ao morrer. Haverá futuro, crendo no que ele fez por você!