Pr. João Soares da Fonseca

A Tragédia de Errar o Alvo

Pecado é errar o alvo. Pode parecer coisa inocente ou inconsequente, mas não é. Na crônica O circo de todos os desatinos, Roberto Pompeu de Toledo (Veja, 31-01-2001) conta o trauma de Alain Jamet:

“O francês é um cinquentão de cabelos até os ombros, que costuma – ou costumava – se apresentar metido numa roupa escura, botas e luvas. Seu instrumento de trabalho era uma besta, aquela arma antiga, feita de um arco e uma corda que se retesa, para disparar flechas. A profissão de Jamet é… praticar o tiro ao alvo contra uma moldura humana… fazia-se de Guilherme Tell. Em vez de maçã, usava uma laranja; em vez do filho, punha a laranja sobre a cabeça da mulher, Catherine, e reproduzia o número que tanto suspense… causava na plateia. Catherine, de 39 anos, apresentava-se num modelo parecido com o do marido. Uma roupinha preta… luvas, botas até os joelhos. Há treze anos – praticamente desde que se conheceram, num mercado na cidade normanda de Caen – eles encenavam o número, e o levaram em andanças sem conta, mundo afora. Sempre com sucesso. Difícil decidir o que mais admirar, se a precisão milimétrica da pontaria de Jamet, se o sangue-frio de Catherine. Até que…”

“Até que no último dia 14, durante o Festival Mundial do Circo, que se desenrolava em Paris, deu-se o que tantas vezes se teme, mas nunca acontece. Jamet atirou e… Um grito. Catherine continuava ajoelhada, na posição em que habitualmente ficava para o número, mas… Foi difícil compreender, a princípio, o que ocorria. A flecha atravessara-lhe a cabeça! A própria Catherine, num movimento reflexo, arrancou a flecha. Depois caiu. Fora atingida pouco abaixo do olho. Catherine escapou com vida do episódio. Na semana passada não corria mais perigo. Jamet diz que só não queimou a besta, as flechas, as roupas, e tudo, porque esse material vale algum dinheiro, e ele quer vendê-lo para começar outra vida. Não atirará mais.”

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