Pr. João Soares da Fonseca
Vacinai-vos, Irmãos!
No final do século 17 e início do 18, a cidade de Boston foi vitimada pela varíola. A principal arma das autoridades de saúde para tentar conter o avanço da epidemia era o que hoje conhecemos muito bem, a quarentena. Mesmo assim, morreu muita gente.
Havia em Boston um pastor puritano, que se chamava Cotton Mather (1663-1728). Intelectual respeitável, publicara mais de 400 livros, gostava de biologia e fazia pesquisas com plantas. A igreja do pastor Mather deu-lhe de presente um escravo africano. Pensando em Onésimo, o escravo mencionado por Paulo na carta a Filemom, Mather deu-lhe o nome de Onésimo, ensinou-o a ler, escrever e o evangelizou.
Um dia, Onésimo falou ao pastor sobre uma experiência que teve quando ainda menino na África. Mostrando-lhe uma cicatriz, contou de algo a que poderíamos chamar de imunização primitiva. Mas no fundo seguia o mesmo princípio do que hoje chamamos de vacinação. Mather foi pesquisar e descobriu que a prática era comum também na Turquia.
Em 1721, a varíola retornou com força, devastando a Nova Inglaterra. O pastor Mather tentou convencer os médicos a adotarem a prática que descobrira com seu escravo. Não só não foi ouvido, como ainda foi desprezado. Os jornais da cidade zombavam da prática. E mais: em novembro daquele ano, alguém atirou uma granada acesa na casa do pastor.
Além da resistência da classe médica, Mather sofreu ainda com o negacionismo de outros pastores. Um deles, o Rev. John Williams, argumentava que a imunização não era da vontade de Deus, porque não havia nada na Bíblia a respeito do assunto.
Um único médico, o Dr. Zabdiel Boylston, resolveu experimentar o método que o pastor Mather tentava popularizar. E com isso salvou muita gente.
Ouvindo e lendo tanta asneira sobre vacina hoje, sou forçado a me lembrar de Jó quando disse: “…falei do que não entendia, coisas que me eram maravilhosas demais, e eu não compreendia” (Jó 42.3).