Pr. João Soares da Fonseca
Fé Maior que a Memória
O carioca Ephrain Moreira (1932-2003) vivia sempre bem-humorado, mesmo com a hemodiálise três vezes na semana nos últimos quatorze anos de sua vida. Com seus talentos, Ephrain serviu a Deus até o fim. Na música, foi regente de coro, praticamente toda a sua vida; além de ensinar música em escolas públicas. Pregador leigo, amava a obra da evangelização.
Sua proverbial falta de memória, porém, nos fez rir muito em Cascadura, especialmente porque era ele mesmo quem contava.
Um dia, foi ao centro do Rio de carro. Rodou, rodou, até que achou um lugar para estacionar. Trancou o carro e foi à luta. Só bem mais tarde, no conforto de sua casa em Jacarepaguá, é que se lembrou que deixara o carro no centro. Voltara tranquilamente de ônibus.
Noutra ocasião, a memória o traiu de novo. Dessa vez, o carro ficara no Méier. Até aí, tudo bem, já que o único prejudicado fora ele mesmo. Mas agora imagine a raiva do Walter, seu irmão, neste outro episódio:
Um dia, em Madureira, o carro não pegava de jeito nenhum. Walter desceu, chamou algumas pessoas, que começaram a empurrar a traquitana. Engasga daqui, escoiceia dali, o carro enfim pegou. Ephrain, eufórico, pegou velocidade e foi embora, conversando com o irmão que supunha estar ao seu lado. Foi só algum tempo depois, bem depois, estranhando o “silêncio”, que percebeu que deixara lá atrás o pobre do Walter.
Zuenir Ventura escreveu certa vez sobre um remédio fabuloso, — “a caixa continha 120 comprimidos” — excelente para a memória, que um amigo trouxe dos Estados Unidos. Zuenir falava do remédio para uma amiga ao telefone. A amiga queria saber o nome do remédio. Zuenir ficou enrolando, tentando se lembrar e nada! Mas o remédio era mesmo muito bom. A falta de memória em certas áreas da vida pode render boas risadas. Mas noutras, é bom não brincar. Esquecer o nosso Criador, por exemplo, é falha fatal (Eclesiastes 12.1).