Pr. João Soares da Fonseca

Igreja ou Cemitério?

Como você se sentiria se passasse em frente a uma igreja e sentisse cheiro de podre?

Era assim, no centro do Rio de Janeiro. E foi assim por muito tempo. É que não havia cemitérios ao ar livre como os temos hoje. As pessoas eram sepultadas dentro das igrejas. Os cemitérios foram criados por causa da epidemia de cólera-morbo, que devastou a cidade em 1855. Por isso, a 18 de outubro de 1851, inaugurou-se o primeiro cemitério carioca, chamado “São Francisco Xavier”, popularmente conhecido como Cemitério do Caju. Depois criou-se o cemitério do Catumbi (São Francisco de Paula) e o Cemitério São João Batista.

A ideia de sepultar os mortos dentro das igrejas não foi uma invenção carioca. Vem de longe e de longa data. Ao visitar Milão, na Itália, em 2015, fomos ver a Igreja onde Agostinho se converteu, ouvindo a pregação de Ambrósio. Sob o altar, há uma cripta onde se pode ver o esqueleto de Ambrósio. Na chamada Basílica de São Pedro, a Igreja do Vaticano, estão sepultados muitos papas.

A Abadia de Westminster, junto ao Parlamento em Londres, também é famosa por ter recolhido os restos mortais de grandes personagens da história inglesa.

Além de não ser recomendado sanitariamente, é evidente que a prática não encontra respaldo neotestamentário.

Será que Igreja é cemitério de crente? Nunca foi. Ao responder a perguntas e provocações dos saduceus, que negavam a ressurreição dos mortos, Jesus disse: “…na passagem a respeito da sarça, em que ele chama o Senhor de Deus de Abraão, Deus de Isaque e Deus de Jacó, o próprio Moisés mostrou que os mortos ressuscitarão [*Ou: que os mortos ressuscitam]. 20.38 Ele não é Deus de mortos, mas de vivos; porque para ele todos vivem” (Lucas 20.37-38).

Se o Senhor da Igreja é “Deus… de vivos”, jamais a igreja será um cemitério, mas sempre, sim, uma maternidade espiritual. Nela serão gerados aqueles que se desgarram da morte e saltam para a vida, para a vida eterna.

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