Pr. João Soares da Fonseca

Cobras ou Cabras?

Quando o jovem brasileiro Gustavo Frederico chegou ao Canadá, ele conheceu alguns irmãos açorianos. Um dia, perguntou ao irmão Tavares, um deles: “O que o senhor fazia antes de vir para o Canadá?”. Tavares, no sotaque típico da Ilha de São Miguel, respondeu educadamente: “Criava cobras”.
“Mas, cobras? Por quê?”, perguntou Frederico.
O açoriano corrigiu: “Cobras, cobras, que fazem bééééé”.

Aliás, alguns anos depois desse episódio, quando eu conheci o irmão Tavares e a esposa, perguntei se eles eram franceses. Claro que ele não gostou da pergunta. É que o sistema vocálico usado na Ilha de São Miguel não parece ser português. E isso dificulta muito a mútua compreensão.

Além do irmão Tavares, tínhamos um vizinho micaelense não crente chamado José Soares. Quase nonagenário, eu sempre o via caminhando lentamente ao sol da manhã. Eu o saudava, ele sorria.

Um dia, ao passar pela casa dele, vi-o no fundo da garagem, sentado aparentemente sem fazer nada. Quando me viu, acenou-me para que eu me aproximasse. E conversamos algum tempo. Mas confesso, envergonhado, que não entendi absolutamente nada. A conversa era assim: eu perguntava alguma coisa, e ele respondia longamente. Mesmo sem entender, eu fazia outra pergunta, e ele tornava a responder, falando e rindo. Fiz outras perguntas mais, às quais ele respondeu com o mesmo entusiasmo. Mas até hoje não tenho a mínima ideia do que ele disse.

Quero, porém, retornar à pergunta do jovem Frederico e à resposta do irmão Tavares. Uma leve alteração na pronúncia da vogal A na sílaba CA, pode comunicar equivocadamente que alguém é criador de “cobras”, em vez de “cabras”.

Na vida temos a opção de criar cobras ou cabras. Podemos direcionar as nossas forças no sentido de viver para abençoar as pessoas. Ou, admitamos com tristeza, podemos organizar as nossas vidas em torno de um projeto venenoso, egoísta, agressivo e destruidor. A decisão é de cada um!

 

  1. 9 de novembro de 2021

    Boa palavra! Infelizmente, as vezes parece que somos tendenciosos a criarmos “cobras” em tudo que vemos. Por outro lado, acho, que criar “cabras” significa, tem um sentido mais pastoril. Cuidar bem de nós e das pessoas, é sem dúvida, uma atitude mais sábio e sensata.

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