Pr. João Soares da Fonseca
A Lenda da Embriaguez
Em seu livro “Lendas do Povo de Deus”, de 1943, o carioca, Malba Tahan, cujo nome verdadeiro era Júlio César de Mello e Souza (1895-1974), conta o que chamou “A Lenda da Embriaguez”.
Preparava-se Noé para plantar a primeira vinha e eis que surge diante dele a figura negra e hedionda do Demônio.
— Que pretendes plantar aí? — perguntou o Demônio.
— Uma vinha! — informou Noé encarando com olhar sereno o seu insolente interrogante.
— E como são os frutos que esperas colher, meu velho? — inquiriu friamente o Demônio.
— Ora — explicou o patriarca de bom humor — são frutos deliciosos, sempre doces. Os homens poderão saboreá-los maduros e frescos, ou secos e açucarados. Do caldo desse fruto poderá ser fabricada uma bebida – o vinho – de incomparável sabor. Essa bebida levará alegria e inspiração aos corações dos mortais!
— Quero associar-me contigo no plantio dessa vinha! – Propôs o Demônio com certo acinte na voz.
— Muito bem! – concordou Noé. — Trabalharemos juntos. Ficarás, desde já, encarregado de regar a terra.
E o Demônio, no desejo de agir pela maldade, regou a terra com o sangue de quatro animais tirados da Arca: o cordeiro, o leão, o porco e o macaco.
Em consequência desse capricho extravagante do Maligno, aquele que se entrega ao vício degradante da embriaguez recorda, forçosamente, um dos quatro animais. Bem infelizes os que se deixam dominar pelo álcool! Tornam-se alguns, sonolentos e inermes como um cordeiro; mostram-se outros, exaltados e brutais como um leão; muitos, sob a ação perturbadora da bebida que os envenena, ficam estúpidos como um porco. E há, finalmente, aqueles que, depois dos primeiros goles, fazem trejeitos, dizem tolices e saracoteiam como macacos.
Salomão disse: “O vinho causa zombaria e a bebida forte provoca tumulto; todo aquele que é dominado por eles não é sábio” (Provérbios 20.1).