Pr. João Soares da Fonseca
Passado, Aprecie com Moderação
Receio a retórica que repudia os valores que nos foram deixados por nossos pais. O radicalismo de jogar no lixo toda a nossa herança deve ser evitado a todo custo. São os que demonizam o passado. No Canadá, eu apreciava uma programação em italiano de uma emissora de rádio de Toronto. Um dia, o âncora perguntava sobre o que os italianos de lá achavam da ideia de se fazer um museu da imigração italiana. Várias pessoas ligavam, falando do apreço à ideia. Até que um homem ligou e foi simplesmente agressivo: “Pra que um museu? Só pra gastar dinheiro à toa”. Subiu o tom de voz e emendou uma enxurrada de palavras pouco educadas. O passado só é valorizado por quem tem consciência da importância dele.
Você certamente se lembra ou ouviu falar dos hippies, da década de 60, 70. Eles tinham prazer em publicar que eram do contra: contra a moral, contra o trabalho, contra a família, contra a lei e a proibição… O lema deles era “É Proibido Proibir”. O movimento não podia ir mesmo muito longe. Quem pagaria as contas? E os problemas com as autoridades? O movimento se provou tão sem sentido, que os filhos deles não quiseram imitá-los. Para provar que eles também eram do contra, os filhos foram para o outro lado: é a geração dos yuppies, dos anos oitenta e noventa, em que os jovens se entregaram apaixonadamente ao trabalho e ao sucesso profissional.
Há pessoas que deificam o passado. Fazem dele o oxigênio de suas almas. O que é bom, o que seria possível que este mundo produzisse de bom, já foi produzido por seus avós, afirmam elas. Daqui por diante, só o caos. A esse outro extremismo se responde com Eclesiastes 7.10: “Não digas: Por que razão foram os dias passados melhores do que estes? Porque não provém da sabedoria esta pergunta”.
Passado: nem adorar, nem rejeitar. Isaque mandou abrir os poços que os filisteus entulharam “e deu-lhes os nomes que seu pai lhe dera” (Gn 26.18).