Desobediência Humana e Juízo Divino
(Isaías 24-27)
“A terra está contaminada por causa dos seus moradores, porquanto transgridem as leis, violam os estatutos e quebram a aliança eterna”.
(Isaías 24-5)
Todos somos responsáveis pelos nossos atos diante de Deus com a consciência de que nossas ações trazem consequências. Na história do povo de Deus essa relação ficou evidenciada a partir da historiografia deuteronomística na qual estabelecia as diretrizes básicas da conduta do povo. Nosso Deus é galardoador na medida em que é justo juiz.
A mensagem deuteronomística norteia toda produção literária encontrada no profetismo clássico pré-exílico, ou seja, os escritos proféticos fixados desde Amós (760 a.C.) até o profeta Jeremias. Esse alcance pode ser ampliado quando entendemos que o movimento profético se inicia bem antes do profetismo literário, tendo seu início já com a instauração da monarquia em Israel (1000 a.C.).
Enquanto o livro do Deuteronômio exorta para a obediência, temor e amor a Deus, a obra historiográfica Deuteronomística, mostra com base no passado, como Israel poucas vezes seguiu essa orientação. A tese Deuteronomista é que a desobediência gera como consequência o castigo, e o alcance do castigo não está restrito à pessoa que errou, mas traz implicações para todos (Is 24.2).
A denúncia contra o pecado é uma das marcas do profetismo pré-exílio e que tinha como fundamento as bases teológicas lançadas pelo Deuteronomismo. Essa mensagem não era exclusiva da tradição do profeta Isaías, mas antes dele Amós e Oséias, já pautavam a sua atuação profética nos anúncios de julgamento e condenação (oráculos de julgamento).
Em comparação com os oráculos de julgamento proferidos pelos seus antecessores do Reino do Norte, o profeta Isaías tem em comum a crítica cultural e social, a expectativa pela vinda do “dia de Javé” e a pregação contra a arrogância humana. Isaías denuncia a autossuficiência dos moradores de Jerusalém, por acharem que os muros da cidade seriam intransponíveis a despeito de qualquer descompromisso que eles tivessem com o Senhor. A tradição que o reino de Davi era indestrutível só se sustentava de forma condicional a partir da continuidade da fidelidade do povo a Deus. Davi foi vencedor no campo de batalha porque a confiança dele estava no Senhor (SL 20.7), mas quando essa dependência dá lugar à arrogância do povo, Jerusalém fica vulnerável às investidas do inimigo (Is 22.8,12).
Semelhantemente atualmente, todos nós somos lembrados que a nossa vida é o reflexo da dependência diária de Deus em relação as suas promessas contidas na sua palavra. É por meio de sua Graça que somos poupados por Deus das consequências naturais dos nossos erros. Sejamos fiéis a Deus, deixemos de lado todo sentimento de autossuficiência e arrogância e Ele agirá em nosso favor.
A literatura apocalítica não está restrita ao livro do Apocalipse, ela também está presente no livro de Isaías. Na verdade, desde o Antigo Testamento encontramos uma riqueza textual que deriva desse gênero literário. Geralmente esses textos são associados a períodos de grande perseguição e sofrimento, em muitos casos combinados com contextos de opressão político-militares. Essa composição de diversidade de Gêneros literários dá força à natureza querigmática da mensagem profética que aponta para a Salvação, (Is 26.1), para a segurança no Senhor (Is 27.3) e para o louvor da sua Glória (Is 25.1).
Que o Senhor nos ajude para que sejamos encontrados como os que procuram viver na obediência, sabendo que o resultado de nossas ações redunda nas bênçãos de Deus sobre nós.