O Reino dos Humilhados
(Lucas 15;16)
“Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas.”
(Lucas 16.13)
No capítulo 15, estamos com um grupo de histórias de uma mesma parábola: “a ovelha perdida, a dracma perdida e o filho perdido”. Podemos entender essas três histórias com um centro de entendimento: a celebração do reencontro. Em todas elas, quem encontra o que estava perdido celebra com alegria (Lc 15.7; 15.10; 15.22-24).
Mas o destaque vai para a última história, pois podemos tê-la como o ápice de todo o ensino pretendido por Jesus: demonstrar que o reino de Deus acolhe a todos que são encontrados pelo amor insaciável do Pai.
A porção de Lucas 15.11-24 retrata a atitude de um filho que resolve de modo bem ingrato solicitar a herança de um pai que ainda estava vivo. Se isso não fosse o bastante, ele consome toda a sua riqueza com baladas extravagantes. E, ao fim, vendo-se sem nada, resolve voltar ao convívio do seu pai.
O surpreendente da história é que esse retorno foi facilitado por uma atitude amorosamente graciosa de um pai que nunca desistiu do seu filho. E que, quando o vê de volta, “encheu-se de compaixão e, correndo, lançou-se ao seu pescoço e o beijou” (v.20).
A principal verdade que essa parábola proclama é a possibilidade de um novo começo, a possibilidade de um novo início, uma nova oportunidade, uma nova chance. A graça está sempre estendendo suas mãos aos que estão em situação de vulnerabilidade. Interessante é que o jovem saiu pela porta da frente e voltou pela porta da frente também. Seu status não muda. Ele é filho.
No capítulo 16, temos a abordagem de um contraste interessante entre uma lei que sempre condena e uma salvação que se estabelece eterna. Quanto à lei, fica claro que o reino de Deus é inacessível pelo prisma do desempenho humano. Em outras palavras, o reino é inatingível por mérito (Lc 16.16,17).
Jesus denuncia os fariseus (partido político em Israel, formado por homens racistas, preconceituosos e moralistas) como “hipócritas avarentos”. Fala-se aqui que, quem justifica-se com base em um autojulgamento moralmente correto diante de Deus, engana-se a si mesmo, pois a lei não pode de modo algum salvar, apenas apontar a necessidade de um Salvador. Ela aponta para o nosso Redentor Jesus. Esse foi o argumento de Paulo em Gálatas 3.23,24.
Mas, a nossa salvação eterna vem por intermédio de Jesus, aquele que não privilegia o rico que se veste de púrpura, mas o Lázaro que está todo coberto de feridas (16.19-31). O alvo da graça salvadora é o que está em situação de humilhação absoluta.
A situação de desigualdade social persiste aqui em nosso plano; na eternidade, esse quadro irá inverter-se: de modo que agora é Lázaro que está no “seio de Abraão” e o rico está no “lugar de tormento” (Lc 16.26).
Paremos e reflitamos se de fato temos confiado em nosso desempenho de crentes acomodados em vez de descansarmos no potencial da graça de Deus. Jesus é o nosso Redentor, aquele que nos levará para a eternidade com Deus (no “seio de Abraão”) confiados em seus méritos. Tudo é pela graça. Nada é por méritos.
Gosto de pensar que Deus é um pai que deixa o filho sair de casa, para aprender a valorizar aquilo que somente a casa pode oferecer. Aceite-se como indigno da salvação e, ao mesmo tempo, alvo de Deus para expressar o seu amor por você.
C.S. Lewis diz, em citação livre, que Deus não quer algo de nós. Ele simplesmente nos quer a nós. Esta verdade fica explícita em Jeremias 31.20.
Por fim, Jesus inverte a lógica do reino e celebra o retorno do filho ingrato e acolhe Lázaro com cheiro de podre. Vivamos o reino de Deus. Um reino de humilhados.
Catarina Damasceno – Equipe de Estudos e Resumos